OPINIÃO DO LEITOR - Segurança alimentar: o risco dos resíduos químicos

Por Dean Howes

Você correria o risco de oferecer para sua família produtos que pudessem conter resíduos químicos de antibióticos?

Provavelmente não! Pois é exatamente a preocupação com esse risco que fundamenta o banimento de antibióticos promotores de crescimento na alimentação animal em curso na União Européia.

Até 2006, os últimos quatro produtos ainda permitidos na UE serão definitivamente proibidos.O movimento lá ganhou impulso por pressão dos consumidores, que conseguiram convencer as autoridades de que era preciso dar um basta na utilização desses insumos na produção animal. A discussão sobre o banimento de antibióticos promotores de crescimento na nutrição de animais não é um processo recente.

Desde 1991, por exemplo, os chamados ionóforos são proibidos na UE para utilização na pecuária leiteira e a partir de 2006 não poderão ser utilizados na pecuária de corte. A mesma classe de antibióticos está proibida para uso em vacas leiteiras nos Estados Unidos.

Mas, afinal, o que são os ionóforos? Trata-se de uma classe específica de antibiótico utilizado como promotores de crescimento em ruminantes (bovinos, especialmente).

Sua ação deprime ou inibe o crescimento de microorganismos do rúmen, o que aumenta a eficiência produtiva dos animais, resultante da maior retenção de energia durante a fermentação ruminal.

O problema está no fato de que alguns desses microorganismos, como as bactérias fibrolíticas - que ajudam a digerir as fibras auxiliando na digestão dos animais - são destruídas pelos ionóforos.

O Brasil ainda não restringe a utilização de ionóforos na pecuária leiteira ou de corte. Mas é hora de começar a pensar seriamente no assunto, pois ainda que não participe do comércio internacional de leite é um importante exportador de carne bovina.

A comprovação é científica. Apesar de os ionóforos ser utilizados em baixas dosagens, a administração contínua nas vacas ou gado de corte deixa resíduos no leite.

O que isso significa? Que há possibilidade de resistência a antibióticos usados na saúde humana, principalmente em crianças, maiores consumidores das proteínas do leite e que ainda estão desenvolvendo seu sistema imunológico.

Na carne bovina, o acúmulo de resíduos durante anos pode proporcionar resistência de determinadas bactérias no organismo humano.
E, por outro lado, considerando apenas os riscos à saúde humana, são pequenas as vantagens do uso desses antibióticos promotores de crescimento.

Atualmente, existem alternativas naturais como o uso de leveduras vivas de cepas selecionadas especialmente para exercer o mesmo papel dos ionóforos, estimulando o crescimento das bactérias fibrolíticas e utilizadoras de ácido lático que reduzem a acidez do rúmen e proporcionam maior eficiência da produção.

Além disso, não trazem conseqüências negativas aos consumidores do produto final, pois não deixam resíduo na carne ou no leite.


* O norte-americano Dean Howes é consultor internacional e diretor técnico da Alltech nos Estados Unidos. Ph.D. em Nutrição pela ‘‘Washington State University’’, foi Professor de Nutrição de Ruminantes nas Universidades de Alberta (Canadá) e Idaho (EUA). Howes esteve no Brasil visitando propriedades leiteiras e fazendo palestras em instituições de ensino
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Fonte: Folha de Londrina/PR - Edição de 13/09/2003