Brasil pode liderar mercado de leite?

Rosângela Oliveira

A afirmação do presidente da LAEP Investments, Marcus Elias, acionista do fundo controlador da Parmalat, de que o Brasil poderia se tornar o maior produtor de leite do mundo em cinco anos, provocou reações do setor. O País ocupa hoje a sétima posição no ranking mundial com uma produção estimada de 27 bilhões de litros/ano. Os Estados Unidos (EUA) lideram a lista com 80 bilhões de litros/ano, seguido da Índia, que possui produção similar à norte-americana. Além de duplicar o volume para atingir a liderança, o Brasil ainda precisaria investir, e muito, em tecnologia e qualidade.

“Nós ainda temos que fazer a lição de casa, e isso significa ampliar a profissionalização e qualificação do produtor, melhorar a sanidade e rastreabilidade”, afirmou Ronei Volpi, presidente da Comissão Técnica de Bovinocultura de Leite da Federação da Agricultura do Paraná (Faep) e vice-presidente do Conselho Estadual do Leite (Conseleite). Segundo ele, apesar do Brasil estar crescendo rapidamente, cinco anos seria muito pouco tempo par alcançar a liderança. O Brasil possui cerca de 1,2 milhão de propriedades leiteiras, e média de produção de 3 litros de leite por animal/dia. Esse número é considerado muito baixo se comparado a EUA e Europa, que produzem entre 25 e 30 litros por animal/dia.

O investimento em tecnologia e o melhor aproveitamento de áreas são fatores que podem fazer com que o País dobre a produção. A avaliação é do médico veterinário de Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura do Paraná (Seab), Fábio Mezadri. Para ele é precipitado falar em liderança em cinco anos, mas não inviável. “Atualmente existem muitos fatores conjunturais que estão dificultando o setor nos países produtores”, disse. Entre eles, o excesso de chuvas na Argentina e estiagem na Austrália. Assim como, o fim dos subsídios na Nova Zelândia e União Européia; e o investimento dos EUA em milho para a produção de etanol.

O especialista também defende o crescimento do consumo interno. Segundo pesquisa do consumo de bebida no Brasil, feita pela Tetra Pak Marketing Service, o leite aparece em quarto lugar, com 40%, atrás da cerveja (68%), café (61%) e do refrigerante (55%). Mezadri entende que marketing do leite ainda é franco, e tem como foco principal as crianças. O consumo de leite per capita no País é de 78 litros/ano, enquanto na Europa e EUA passa de 100 litros/ano.

Já para o coordenador de Produção Pecuária da Cooperativa Castrolanda, que fica no município de Castro, considerado como a maior região produtora de leite do Brasil, Rogério Wolf, a afirmação do presidente da LAEP serviu como estímulo para o setor, “pois demonstra que ele, como indústria, vê com bons olhos o segmento”. O tempo estimulado, segundo Wolf, é irrelevante diante da aposta do empresário no potencial comercial do País. Castrolanda possui hoje um rebanho de 30 mil animais, com 15 mil em lactação. A média da produtividade atinge 23 litros de leite por vaca/dia. Só nos cinco primeiros meses de 2008 a cooperativa registrou um crescimento de 14%, e apesar de toda a produção de leite in natura e concentrado atender o mercado interno, Wolf adiantou que estão estudando o mercado para exportações.

Programa nacional de qualidade

A qualidade do leite consumido no País poderá ser acompanhada pelo consumidor. Essa é a proposta do Centro Integrado de Monitoramento da Qualidade do Leite (Cquali) lançado na semana passada no Ministério da Justiça, em Brasília. Ele é uma parceria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e o Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor, do Ministério da Justiça (DPDC).

O Cquali não terá uma estrutura física instalada. Os dados serão coletados regionalmente e sistematizados na internet, na página eletrônica do DPDC.

As informações também serão compartilhadas com o Ministério Público e a Polícia Federal. Para Ronei Volpi, do Conseleite, a iniciativa foi um passo importante do governo em respeito ao consumidor, que é uma tendência mundial. “Nós como entidade vamos trabalhar e cobrar que ele funcione”, comentou. (RO)

Paraná: segundo maior produtor

A produção leiteira do Paraná é de 2,7 bilhões de litros. Com isso, o Estado se destaca como o segundo maior produtor nacional, atrás de Minas Gerais (7,9 bilhões) e na frente do Rio Grande do Sul (2,6 bilhões).

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) dos 10 municípios brasileiros que mais produzem leite, os três primeiros colocados estão no Paraná: Castro, Marechal Cândido Rondon e Toledo, que juntos produzem cerca de 350 milhões de litros. Do total de 9,5 milhões de cabeças do rebanho do Estado, 2,5 milhões de cabeças são leiteiros, sendo que a atividade está presente na vida de 100 mil produtores e 377 laticínios com inspeção federal, estadual e municipal. A grande maioria da produção se concentra em pequenas e médias propriedades, sendo que a agricultura familiar responde hoje por quase 50% da produção estadual de leite. A média de produtividade é de 1,9 mil litros por vaca/ano exceção fica para a região de Castro considerada Centro de Referência em Bovinocultura Leiteira.

De acordo com médico veterinário da Coordenadoria do Leite da Seab, Lourival Uhlig, a meta do Paraná é melhorar esses números. “O Estado tem condições de duplicar essa produtividade, e isso envolve melhoria na alimentação, genética, sanidade e qualidade”, disse. Segundo ele o Estado tem um programa de apoio e qualidade do leite que está investindo na capacitação de técnicos, produtores e indústria.

Fonte: Paraná Online – Edição: 29/06/2008