Importação de leite prejudica o setor
A importação de leite dos
países do Mercosul, em especial da Argentina e do Uruguai, tem gerado polêmica
entre os representantes do setor e foi um dos temas discutidos, ontem, em uma
audiência pública, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, pela Subcomissão
do Leite. "Essa é uma das mais graves crises enfrentadas pelo setor",
afirma o diretor da cooperativa Minas Leite, José Américo Oliveira Simões.
Segundo ele, as
dificuldades do setor leiteiro estão sendo causadas pelas importações de
lácteos, sobretudo de leite em pó do Uruguai. O Uruguai exportou para o Brasil
18,8 mil toneladas de produtos lácteos. Também cresceram as compras de soro de
leite feitas pelo Brasil.
Somente no mês de agosto,
entraram no país 4,5 mil toneladas, volume 86% superior à média do ano passado.
Cerca de 60% do leite em pó e soro uruguaio são consumidos pela indústria de
alimentos, principalmente, na produção de sorvetes, bolos, etc. O leite
uruguaio chega ao país custando aproximadamente R$ 0,63 o litro, contra um
preço médio nacional de R$ 0,72.
Dados da Secretaria de
Comércio Exterior (Secex) mostram que no primeiro semestre de 2011, as vendas
externas do setor, no Brasil, somaram US$ 45 milhões, 31% menos do que no mesmo
período de 2010. As importações subiram para US$ 277 milhões, com evolução de
87% no período.
Lideranças dos produtores
de Minas querem que o Governo federal estabeleça cotas de importação para o
Uruguai, nos moldes das que foram estabelecidas para a Argentina.
O presidente da Federação
dos Trabalhadores da Agricultura de Minas Gerais ( Fetaemg) , Vilson Luiz da
Silva, diz que a concorrência Uruguai tem prejudicado também o pequeno produtor
e, por isso, é a favor da política de cotas. Os preços do leite já caíram 10%
desde junho, e a tendência é de mais 3% de queda em setembro", afirma.
O presidente da
Subcomissão do Leite, Domingos Sávio (PSDB-MG), também defende a necessidade de
um acordo para estabelecer cotas mensais de importação de leite em pó do
Uruguai. Segundo ele, a elevação da importação do produto uruguaio tem
preocupado os produtores brasileiros. "O aumento das importações poderá
gerar forte redução dos preços pagos ao produtor pelo litro do leite in natura
no Brasil. Essa redução de preços, associada à alta dos custos de produção,
pode causar desestímulo à atividade leiteira nacional", diz.
O presidente da Itambé,
Jacques Gontijo, lamenta que a política macroeconômica, que mantém os juros
elevados e distorce o câmbio, torne o custo de produção de leite brasileiro um
dos mais altos do mundo, o que desestimula as exportações e deixa atraente a
importação. Ele também reclama da alta carga de impostos que o setor ligado à
produção do leite tem no Brasil . "A tributação é outro grande problema. O
governo precisa rever isso urgentemente . Hoje o leite é taxado em percentuais
que variam de 7 a 18%", afirma.
Gontijo também defende o
incentivo à utilização de tecnologias que possibilitem o aumento da produtividade
no setor. "Os governos precisam manter e dar condições para que os
produtores tenham acesso às tecnologias de ponta que já estão disponíveis. O
consumo aumenta, mas a produtividade não cresce no mesmo ritmo",afirma.
Para o presidente da
Associação Nacional dos Importadores de Alimentos e Bebidas- ( ANIA), Herculano
Gonçalves Filho, a criação de uma cota de importação para o Uruguai trará
consequências ao mercado brasileiro e também para o bolso do consumidor.
Segundo ele, a importação é uma das soluções para evitar os aumentos de preços
na venda dos lácteos no Brasil. " Somente a produção interna não vai dar
conta da demanda, devido ao crescimento do consumo e baixa produtividade, o que
vai encarecer ainda mais o produto", disse, acrescentando que importação
controla o preço e puxa para cima a qualidade do leite brasileiro.
Fonte: Hoje em Dia